Criptomoedas não podem mais ser ignoradas

Bancos centrais já não podem mais ignorar as criptomoedas

Karen Bleier/AFP
Moeda digital bitcoin é descentralizada e registros são públicos
Moeda digital bitcoin é descentralizada e registros são públicos

HUW VAN STEENIS
ESPECIAL PARA O “FINANCIAL TIMES”

25/09/2017  02h00

Poucas questões despertam mais ansiedade nos bancos centrais do que o medo de perder o controle das moedas pelas quais são responsáveis. Os últimos dias ofereceram mais uma ilustração perfeita desse ponto. Na segunda-feira, o banco central chinês baniu as ofertas iniciais de moedas do tipo bitcoin, levando a uma queda de até 20% no valor de algumas criptomoedas.

Nos bastidores, há crescente inquietação quanto ao grau de desordenamento que a tecnologia pode causar nos bancos e no sistema de pagamentos. Nos últimos meses, tanto o Comitê de Supervisão Bancária de Basileia quanto o Fórum Econômico Mundial publicaram estudos longos sobre suas preocupações e a situação do mercado.

Até o momento, quem ganhou mais com a nova tecnologia foram os clientes. Os inovadores em tecnologia financeira parecem ter causado menos desordenamento do que se esperava, porque em geral não foram capazes de alterar as bases de competição em um setor tão regulamentado, argumenta o relatório do Fórum Econômico Mundial. Em lugar disso, a tecnologia levou a uma melhora acentuada nos serviços aos clientes e a uma queda forte no custo dos pagamentos.

Mas, além da resiliência diante de ataques cibernéticos, há três grandes preocupações.

Primeiro, será que os bancos, cuja segurança sempre foi uma das principais preocupações das autoridades regulatórias, serão enfraquecidos pelos novos concorrentes? Para simplificar, será que surgirá algo como a Amazon no mercado dos bancos? Os financistas costumavam acreditar que a regulamentação tornaria o mercado de serviços financeiros pouco atraente para novos rivais. Mas agora estão começando a perceber que rivais não bancários podem tomar por alvo as áreas mais lucrativas do mercado e colher os benefícios, tornando os bancos que operam sob forte regulamentação menos lucrativos.

Segundo, será que os bancos se tornarão menos importantes quando os negócios de empréstimos forem transferidos para fora do perímetro regulatório? De 2009 para cá, muitos negócios foram transferidos dos bancos para o setor de gestão de ativos. Mais de US$ 600 bilhões foram captados para financiar dívidas privadas, de acordo com a Preqin, uma companhia que pesquisa dados de mercado, Como resultado, as autoridades estão dedicando mais tempo a analisar o setor não bancário. A crescente dependência dos bancos quanto a grandes empresas de tecnologia que operam sua infraestrutura também vem levando as autoridades financeiras a pensar sobre que setor é mais importante em termos sistêmicos.

Terceiro, será que os bancos centrais perderiam o controle dos pagamentos caso moedas como o bitcoin, emitidas pelo setor privado, vierem a decolar? Emitir moedas é um negócio lucrativo, porque os bancos centrais embolsam a diferença entre o custo de emissão da moeda ou cédula e seu valor de face.

Os bancos centrais também temem que sua capacidade de monitorar o sistema de pagamentos se reduziria. Dada a luta mundial contra o terrorismo e o crime organizado, essa é uma preocupação aguda.

Em um cenário extremo, os bancos centrais temem que poderiam até perder o controle da base monetária.

Até recentemente, as autoridades não se preocupavam demais com as criptomoedas —elas ofereciam pouco benefícios como moeda, a não ser para pessoas interessadas simplesmente em ocultar seus rastros. Não são um “repositório de valor”, como o movimento da segunda-feira demonstra. Não são aceitas de maneira ampla o suficiente para que sejam meio de troca útil. E as moedas digitais não cumpriram suas promessas de segurança —foram alvo de diversas ações de hackers bem sucedidas, nos últimos 12 meses.

Mas à medida que as criptomoedas crescem, devemos esperar que mais e mais bancos centrais busquem impedir ou restringir seu uso. A tendência será mais aguda em mercados nos quais o crime organizado e fugas de capital sejam preocupação. Isso não bastará para deter os especuladores e entusiastas, mas limitará o potencial dessas moedas para criar poderosos efeitos de rede que fariam delas uma moeda paralela útil.

Mas talvez essas preocupações possam levar maior número de bancos centrais a esforços para tornar suas moedas mais atraentes. Protolocos mais eficientes para pagamentos eletrônicos certamente ajudariam, e há muito a aprender com a tecnologia do bitcoin. De um ponto de vista mais profundo, essa é mais uma razão para que o Banco Central Europeu (BCE), o Banco do Japão e outros bancos centrais abandonem o mais rápido possível seus perigosos experimentos com taxas de juros negativas.

O autor é vice-presidente mundial de estratégia da administradora de investimento Schroders e membro do grupo de tecnologia financeira do Fórum Econômico Mundial.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

HUW VAN STEENIS é vice-presidente mundial de estratégia da administradora de investimento Schroders e membro do grupo de tecnologia financeira do Fórum Econômico Mundial

“Sabemos que os negócios vão crescer por isso o Uruguai”
Globant investe USD 60 milhões no Uruguai
“Uruguai, um país próspero” disse diretor do Grupo Casino
Uruguai tem incentivos para audiovisual
Audiovisual: incentivos no Uruguai
Uruguai é o 2o país com mais energia renovável
Uruguai vacinará toda população em 45 dias
Uruguai anuncia nova Zona Franca
Google liga novo cabo submarino no Uruguai
Porto do Uruguai segue o exemplo de Singapura
Acordo para tributar multinacionais: oportunidade para China?
Uruguai é o país mais resistente na pandemia
Unicórnio do Uruguai entra na Bolsa em NY
Porto do Uruguai se moderniza
Chocolaterias premium expandem no Uruguai
Tempos de bonança pós pandemia diz The Economist
Uruguai tem instituições fortes e alta renda per capita diz FMI
Uruguai prepara o melhor porto da América do Sul
Argentina: 9 dias de lockdown
Argentina aumenta restrições de mobilidade
Uruguai abre as fronteiras para estrangeiros
Empresas de tecnologia uruguaias vendem para México
Porto de Montevideo será mais moderno da AL
Assessor de Macri pede asilo no Uruguai
Uruguai: taxa de internação em UTI de vacinados é quase zero
Novos vôos Miami – Montevideo
Google compra 30 hectares no Parque da Ciência no Uruguai
Uruguai consegue boa colocação de bonos
Empresa de software investe no Uruguai
UBS espera retomada da economia em outubro
EUA e Europa estudam modelo de tributação mundial
Advocacia: mudanças radicais e rápidas
Uruguai anuncia compra de mais vacinas
Paraguai surpreende e não apoia flexibilização do Mercosul
Nova Iorque perde USD 60 bilhões com turismo
Nova fábrica da Ford Uruguai começa a contratar
BofA: bolha é maior preocupação dos investidores
Hotéis e edifícios em Nova Iorque em crise
Uruguai propõe flexibilização do Mercosul
“Argentina é difícil para investidores estrangeiros*
Argentina: a miséria assola o país
Argentina: crise santiária e financeira
Brasileiros investem no exterior
“Uruguai é reconhecido por dar segurança aos investidores”
Porto de Livre Comércio de Hainan
Falências vão ser recordes em São Paulo
“Argentina não tem futuro”
Preços do mercado imobiliário de Montevideo
Home Office muda Manhattan
Fim do ensino presencial?