‘A máquina de crescimento quebrou’

‘A máquina de crescimento quebrou’
Para Arminio Fraga, economia está frágil, crise política não foi debelada e, para complicar, Lava Jato e Trump ainda podem atrapalhar a retomada
Alexa Salomão
13 Novembro 2016 | 06h00
Foto: ESTADAO CONTEUDO

O ex-presidente do Banco Central, o economista Arminio Fraga, é pragmático. O País melhorou depois do impeachment e o governo de Michel Temer segue na direção certa. “A mudança foi impressionante. O Brasil como estava, ia quebrar três vezes mais. A gente ia se espatifar”, diz ele. Mas o cenário ainda é frágil e ficou mais complicado com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a expectativa de novas delações na Lava Jato: “Estamos entrando num período de muita incerteza.” A seguir os principais trechos de sua entrevista ao Estado.
Estadão: Qual o efeito da eleição de Donald Trump nos EUA para a recuperação da economia brasileira?
Armínio Fraga: Há um certo exercício de futurologia nisso, mas, se ele for adiante com o plano de fazer uma grande expansão fiscal, certamente vai nos prejudicar. Não podemos nos iludir: nossa situação ainda é bastante frágil. Estamos sinalizando com reformas importantes, mas uma virada na área fiscal – supondo-se que tudo seja aprovado – começa daqui a uns cinco anos.
Vamos perder investidores, é isso?
Quando esse tipo de coisa acontece, um país muito endividado, como o nosso, sofre. Certamente, não seremos os únicos. A China, hoje no topo dessa extraordinária expansão de crédito, que merecia, talvez, a qualificação de bolha, vai sentir. E se a China sentir, cria uma onda de pressões que vão se autoalimentar.
O próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reduziu a projeção de crescimento de 1,6% para 1% no ano que vem. O que houve: foram otimistas ou surgiram outros imprevistos?
Mesmo uma bola murcha quica. É razoável que, na saída de uma recessão tão profunda e violenta como a nossa, essas projeções sejam móveis. O que está claro é que, quando se faz a conta dos vários componentes do PIB, falta alguma coisa.
E o que falta?
Do lado do consumo, as famílias estão endividadas e há desemprego. Isso cria uma insegurança danada. Em muitos setores, as empresas exibem capacidade ociosa. Não seria natural sair correndo para um novo ciclo de investimentos. A infraestrutura, que é o carro-chefe de uma recuperação, responde lentamente, porque é tudo difícil ali: é preciso fazer projetos, tirar licenças, é da natureza da coisa. Infelizmente, a máquina de crescimento do Brasil está quebrada. A tudo isso se sobrepõe a incerteza. Precisamos de um ambiente que gere entusiasmo. Mas a confiança não vem assim… Se fosse, a saída da ex-presidente já teria dado uma virada. E estamos entrando num período de muito mais incerteza.
Como assim?
Vamos ter mais incerteza política. Na Lava Jato, estão reabrindo delações antigas e chegando muitas delações novas. Pelo o que se diz e pelo que se lê, vão afetar atores políticos da maior importância. Aí, você olha para mundo e se assusta: eleição de Trump, Brexit, Erdogan na Turquia, o Putin com o estilão dele na Rússia, Xi Jinping na China. Existe uma onda de populismo, com um pouco de conservadorismo, e nós aqui estamos expostos a isso. Mas, como eu disse, nem precisávamos dar esse giro pelo mundo. Temos muito aqui com que nos preocupar, ao vivo e a cores.
A situação dos Estados é outro componente de incerteza? Em particular o Rio, que teve uma semana, digamos, com cores fortes?
Eu vivo aqui no Rio. Sinto a situação. É o caso mais grave, mas não é o único. Esse quadro foi estimulado pelo governo anterior, que liberou a gastança, e agora se aprofunda com a recessão. Mas, nisso, o governo federal não tem como ajudar. A situação fiscal da União é muito grave também.
O que o governo federal tem espaço para fazer?
O ideal seria fazer o ajuste mais rápido, mas está atuando dentro do que é possível no campo político a essa altura do jogo. A agenda é boa. A PEC do teto do gasto (Proposta de Emenda Constitucional 241) é um avanço extraordinário. Ainda assim, exige a reforma da Previdência, se não o teto não fica de pé. Mas eu acho que vai precisar de mais reformas.
Mas quantas reformas um governo de transição tem espaço para fazer?
Não tem muito espaço, e até acho que estão sendo ambiciosos. Mas, se aprovar a reforma da Previdência no primeiro trimestre, vai ter tempo para fazer mais e não vejo porque parar. Acho muito boa a ideia de discutir as questões trabalhistas. O Estadão, aliás, publicou uma fantástica matéria sobre isso. Ali está tudo o que precisa ser feito. A reforma tributária é outra. Para mim, o momento é de oportunidades. O governo, quando sentou para negociar a dívida com os Estados, deveria ter aproveitado para negociar a reforma do ICMS, que é um sistema maluco. Tem também uma agenda micro a ser feita, como recuperar as agências. Ter agências profissionais ajuda muitíssimo.
No micro, o governo prepara medidas para destravar as concessões, inclusive porque parte delas estão com empresas incriminadas na Lava Jato, com problemas de crédito. É o caminho?
A questão é importante. Mas aí é preciso tomar um certo cuidado para não criar a expectativa de que vai se dar moleza. Há riscos que são do jogo. É preciso ter um mecanismo para digerir a situação, atrair mais capital e seguir adiante – seja com o próprio concessionário, ou se ele estiver quebrado, com outro. Toda a discussão sobre lei de falência trata disso: como lidar com a falta de capital, por razões das mais variáveis – incompetência, azar, qualquer coisa – sem criar paralisia de negócios. Salvar empregos é importante. Mas a preocupação não é salvar o concessionário. Em alguns casos é até saudável uma certa destruição criativa, como dizia o economista Joseph Schumpeter.
Há quem reclame que o Banco Central deveria ser mais agressivo na queda da taxa de juros, até para ajudar nessa questão do crédito. O que o sr. acha?
O BC é fiel no compromisso de cumprir a meta de inflação de 4,5% no ano que vem. Uma vez confirmado o diagnóstico de fraqueza da economia, não vai ter problema em cortar. Vai acertar. Aí eu não tenho medo.
Em menos de dois anos, estamos no terceiro ministro da Fazenda. O sr. disse lá atrás que Joaquim Levy não foi ousado e que Nelson Barbosa precisaria se provar. E o Meirelles?
O Levy tentou e conseguiu fazer muita coisa – que bom que tenho a chance de dizer isso. Olhando para traz a gente vê que ele estava tentando desmontar pedaladas e gastos desenfreados. E inverteu a direção. O Nelson foi arquiteto da nova matriz econômica e havia desconfiança se ele tinha mudado de ideia. Mas ficou pouco tempo. Meirelles tem o histórico de oito anos de Banco Central, com um trabalho bem feito, também em condições adversas. Depois da saída do Palocci (Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda), ele ficou isolado, com apoio só do presidente, que era o que bastava. Chegou na Fazenda apresentando essa proposta de teto de gastos, mais Previdência, que é forte. Está dando passos radicais. Conseguiu uma mudança impressionante. O Brasil como estava, ia quebrar três vezes mais. A gente ia se espatifar.
Mas pelo que sr. descreveu, ainda não conseguimos solucionar a crise política que contamina a economia. Por quê?
Há um certo consenso de que são três crises simultâneas: econômica, política e de valores. Sobre a econômica já falamos. A crise política tem a ver com o caos dos mais de 30 partidos, o que faz com que a coisa funcione como um grande bazar, e reduz um senso maior de responsabilidade pelo bem comum. A de valores tem a ver com a corrupção generalizada, com a busca de atalhos para tudo, com a falta de meritocracia e a de confiança entre as pessoas. Acredito que essas crises têm raízes comuns, que exigem uma resposta simultânea. De um modo geral, a coisa tem a ver com o modelo de Estado que temos, capturados por interesses privados e partidário.
Como o sr. viu o resultado das eleições municipais? Houve uma guinada à direita?
Não se trata de guinada da esquerda para a direita. Não há mais esquerda ou direita. Ou você vai dizer que o PT é de esquerda? O partido da bolsa empresário, que teve a relação que vimos com as empresas, pode ser chamado de esquerda? Acho que não, né? São Paulo elegeu o João Doria (PSDB), que tem um perfil empresarial, bem parecido com o da cidade. Mas o que vimos na eleição municipal em muitas cidades foi a ascensão de uma direita no que se refere ao conservadorismo dos costumes. É preocupante. Eu, como liberal que sou, estou fora disso.
Já dá para dizer para onde a crise econômica vai levar as eleições de 2018?
Não tem como. Ninguém consegue. O meu temor é que surja um populista moralista vendendo um caminho sem sacrifício. Aliás, não gosto quando falam que cada um precisa dar a sua cota de sacrifício para fazer o ajuste, para tirar o País da recessão. Fica parecendo que existe uma saída sem sacrifício – e isso não existe. Nesse ambiente, pode surgir um vendedor de ilusões que piore ainda mais tudo que está aí.
O sr. aceitaria novamente convite para ser ministro da Fazenda?
Não sei. Nem tenho tempo para pensar nisso. Sabe o que acontece? Com o tempo, o sarrafo vai subindo. Quando fui presidente do Banco Central, eu tinha 40 e poucos anos. Agora, estou com 59. A gente vai ficando mais crítico e mais exigente. Estou contente me dedicando à Gávea Investimentos e, em menor escala, a temas acadêmicos e filantrópicos.

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