OCDE vê PIB do Brasil como o pior entre países do G20 em 2016 e em 2017
BBC BRAZIL
28/11/201610h07
A forte recessão deve fazer com que o Brasil tenha o pior desempenho entre o G20 (grupo das maiores economias do mundo) em 2016 e em 2017, segundo a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
De acordo com o relatório trimestral Global Economic Outlook (Panorama Econômico Global), divulgado nesta segunda-feira, o PIB (Produto Interno Bruto, ou a soma de riquezas de um país) brasileiro vai registrar contração de 3,4% neste ano e crescimento nulo (0%) em 2017. A estimativas melhoraram em relação às projeções feitas em junho, que falavam em queda – tanto em 2016 quando no próximo ano – de 4,3% e 1,7%, respectivamente.
Segundo a OCDE, a retomada só vai acontecer em 2018, quando a economia brasileira deverá crescer 1,2%.
Se confirmadas as projeções, o Brasil entrará no terceiro ano consecutivo de queda do PIB. Atualmente, o país vive um cenário de recessão com inflação, o que dificulta a recuperação da economia.
As estimativas diferem das do governo e da pesquisa Focus (expectativas do mercado), publicada pelo Banco Central. A previsão oficial do governo é de retração de 3,5% neste ano. Para 2017, a projeção é de crescimento de 1%. Por outro lado, segundo a última pesquisa, o mercado calcula queda de 3,49% em 2016 e alta de 0,98% no ano que vem.
De abril a junho, o PIB brasileiro recuou 0,6% em relação ao trimestre anterior. Foi o sexto trimestre consecutivo de queda.
“A economia está emergindo de uma recessão severa e prolongada. A incerteza política diminuiu, a confiança do consumidor e dos empresários está aumentando, e o investimento se fortaleceu. No entanto, o desemprego deve continuar aumentando até 2017, para só depois cair gradualmente. A inflação deve retornar gradualmente para a meta”, destaca o documento da OCDE – a organização reúne 35 países, em sua maioria desenvolvidos.
“A trajetória fiscal é ligeiramente contracionista ao longo do período de projeção. Um ajuste fiscal efetivo permitiria uma maior flexibilização da política monetária e sustentaria uma recuperação do investimento. O aumento da produtividade dependerá do fortalecimento da concorrência, por meio de barreiras comerciais menores, incluindo menos encargos administrativos e melhorias na infraestutura”, acrescenta a nota da OCDE, sediada em Paris.
‘Aquém do cronograma’
No relatório, a OCDE também chama atenção para o crescimento dos gastos públicos e da dívida pública no Brasil.
“Os gastos públicos estão superando o PIB por muitos anos e a dívida pública vem crescendo. Uma nova regra fiscal está sendo implementada e, em combinação com a planejada reforma de aposentadorias e de benefícios sociais, deverá fortalecer a sustentabilidade fiscal”, diz o relatório.
“Essas reformas podem simultaneamente levar a quedas maiores na desigualdade de renda. No lado das receitas, há um espaço substancial para reduzir a complexidade e os custos de compliance com a consolidação de impostos indiretos estatais e federais em um único tributo de valor agregado”, acrescenta.
Apesar de destacar que a “implementação das reformas vai ganhar impulso em relação ao passado”, a organização ressalva que elas “ficam aquém do cronograma ambicioso necessário”.
“O crescimento lento dos dividendos e uma contínua contração do crédito privado vai limitar a alta do consumo inicialmente, embora taxas de juros mais baixas possam, eventualmente, permitir que a recuperação do consumo se acelere. No contexto de baixo crescimento do comércio internacional e dos atuais desafios de competitividade, o setor externo não vai ser capaz de fornecer tanto apoio como nos últimos anos”, avalia a OCDE.
A OCDE menciona ainda os riscos relacionados às reformas previstas pelo governo.
“O impulso mais forte nas reformas estruturais é um potencial risco ascendente para as projeções, uma vez que isso poderia aumentar a demanda interna por meio de uma combinação de spreads (diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que eles cobram ao conceder um empréstimo) mais baixos, menor valorização do real e taxas de juros mais baixas”, assinala o relatório.