17/03/2017 08h39 – Atualizado em 17/03/2017 09h42
Frigoríficos investigados vendiam carne vencida no Brasil e no exterior
Irregularidades foram descobertas pela Operação Carne Fraca.
Investigações abrangem sete estados; BRF e JBS são citadas.
Samuel Nunes e Marçal Dias Jordan
Do G1 PR e da RPC
Gravações telefônicas obtidas pela Polícia Federal apontam que vários frigoríficos do país vendiam carne estragada tanto no mercado interno, quanto para exportação.
Diretores e donos das empresas estariam envolvidos diretamente nas fraudes, que contavam com a ajuda de servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Paraná, Goiás e Minas Gerais.
As gravações foram divulgadas após a deflagração da Operação Carne Fraca, nesta sexta-feira (17).
Nelas, segundo a PF, é possível identificar as práticas ilegais cometidas pelas empresas. Entre produtos químicos e produtos fora da validade, há casos ainda mais “curiosos”, como a inserção de papelão em lotes de frango.
O G1 tenta contato com as defesas dos citados na reportagem.
A operação envolve grandes empresas, como a BRF Brasil, que controla marcas como Sadia e Perdigão, e também a JBS, que detém Friboi, Seara, Swift, entre outras marcas, mas também frigoríficos menores, como o Peccin, do Paraná.
Em um dos áudios gravados com autorização judicial, um dos donos da empresa, Idair Antônio Piccin, conversa com a mulher dele, Nair Klein Piccin, sobre o uso de carne proibida em lotes de linguiça. Os dois tiveram pedidos de prisão preventiva decretada pela Justiça.
Idair – Você ligou?
Nair – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
Idair – É.
Nair – Ele quer te mandar 2000 quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
Idair – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
Nair – Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga
Idair – Tá bom, mas vamos usar no que?
Nair – Não sei
Idair – Aí que vem a pergunta né? Vamo usar na calabresa , mas aí, é massa fina é? A calabresa já está saturada de massa fina. É pura massa fina
Nair – Tá
Idair – Vamos botar no que?
Nair – Não vamos pegar então?
Idair – Ah, manda vir 2000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina
Nair – Na linguiça?
Idair – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça
Nair – Tá, seria só 2000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho (ininteligível)
VÍDEO: Ouça o áudio em que sócio de frigorífico fala sobre uso de carnes proibidas
Em outro áudio, Paulo Rogério Sposito, dono do Frigorífico Larissa, de Mauá, em São Paulo, orienta um funcionário a trocar as etiquetas das datas de validade dos produtos.
Segundo a polícia, os dois aparentam se aproveitar da ausência do fiscal do Mapa, citado como “filho da p*”, que está de folga. Sposito também é alvo de um dos mandados de prisão preventiva da operação.
Funcionário: Paulinho…
Paulo: Eu…
Funcionário: Deixa eu te falar uma coisa… Podia programar pra semana que vem, a gente trazer aquela mercadoria lá pra trocar as etiquetas né meu véi…
Paulo: Pode…pode sim
Funcionário: Já que num vai ter…né…já que nós vamo tá parado aqui.
Paulo: Primeira carreta que voltar de são paulo vazia passar lá e pega.
Funcionário: É isso aí… Ai nós já arruma…tem o que? Duas carreta lá ainda?
Paulo: De verdade eu não sei quanto tem lá no estoque não
Funcionário – (…) Nós já arrumava tudo aquele trem, deixava no jeito. O homem tá de férias né. Num ta aqui..
Paulo – Ah , esse filho da p* tá de férias é?
Funcionário – Agora era…hora boa de nós…
Paulo – Agora era…