Carro de luxo alemão é aposta do Uruguai para sobrevivência da lã
Pablo Porciuncula/AFP | ||
Ovelhas em propriedade em Florida (Uruguai) |
13/01/2018 02h00
Sebastián liga a tosquiadeira, afasta a cabeça da ovelha e em alguns minutos a deixa “pelada”. É a primeira etapa de uma viagem que levará a lã do Uruguai, um dos maiores exportadores do mundo, até a Alemanha para equipar carros de luxo.
Nessa fazenda de Florida, no centro do país, 17 trabalhadores se esmeram, por três dias, para pelar as 2.600 ovelhas da propriedade, antes que chegue o calor do verão.
Com 3,5 milhões de habitantes e quase o dobro de ovelhas, o Uruguai aposta na globalização para vender sua lã, já que o mercado local só absorve 1% da produção.
O baixo custo do frete marítimo o ajuda: “Sai mais caro trazer a lã de Salto, no norte do Uruguai, do que enviá-la à China”, afirma Facundo Ruvira, diretor da Tops Fray Marcos, maior fábrica de beneficiamento de lã do país.
O Uruguai é um dos poucos países que exportam grande parte de sua lã já lavada e penteada, diferentemente de Austrália e Nova Zelândia, que despacham a maior parte para venda do jeito que sai do corpo dos ovinos.
Enquanto suas lãs mais finas, como a da raça merino, alimentam a indústria da moda de luxo, as mais grossas, da raça corriedale (a mais abundante no Uruguai), encontraram um nicho de mercado: os estofamentos de carros de luxo alemães e aviões.
“O maior cliente que temos nesse mercado é o [grupo austríaco] Schoeller, que tradicionalmente se dedica a atender a indústria automotiva e é muito exigente em qualidade, já que os controles dos automóveis de alta linha são muito rígidos”, conta Ruvira.
Dura 25 dias a viagem de navio até a Alemanha, onde a lã é transformada em tapetes e tecidos que equiparão principalmente carros BMW e Mercedes-Benz, diz Ruvira.
A partir da matéria-prima que recebe do Uruguai, a Schoeller fabrica fios de lã usados em suéteres, roupa íntima, casacos, meias, assim como em assentos dos automóveis mais caros e da classe executiva dos aviões, pois essa lã é resistente ao atrito.
Nesses veículos, “se usa lã porque não queima tanto quanto a sintética, é uma grande vantagem em termos de segurança”, explica Carlos Piovani, do Secretariado Uruguaio da Lã.