Por Augusto Decker da Agência Estado
São Paulo, 17/01/2020 – As importações de carne suína pela China, que já foram recorde em 2019, devem ser ainda maiores neste ano, de acordo com projeção do Rabobank. “Acreditamos que o recorde de importação do ano passado deve ser facilmente superado em 2020”, disse o estrategista global de proteína animal do banco, Justin Sherrard, em transmissão pela internet de seminário do banco sobre peste suína africana.
Ele projeta também que a produção de carne suína na China caia cerca de 15% em 2020. Em 2019, o recuo foi de 25%. “Deve levar até mais o menos o meio dos anos 20 – 2025 ou 2026 – até haver uma recuperação no complexo de carne suína da China para que haja estabilização na produção”, disse Sherrard. Parte do recuo este ano seria porque o país está retendo mais matrizes para reprodução. Segundo o analista, o gigante asiático está fazendo progresso em algumas áreas para conter os surtos atuais – como evidenciado pela queda no número de novos casos -, mas não em todo o país.
“O cenário é muito variado. A China é muito grande, não se pode generalizar”, afirmou. Ele disse também que a realidade pode estar pior do que algumas estimativas oficiais do governo chinês, mas que é difícil fazer estimativas exatas para o país em decorrência das suas dimensões. O país asiático deve passar a reconstruir seu plantel de suínos de forma mais consistente a partir do segundo semestre deste ano, caso não haja novos problemas sanitários, afirmou Sherrard.
O Rabobank projeta que parte do consumo chinês de carne suína deve migrar permanentemente para outras proteínas, em especial a de frango. Até a chegada com força da peste suína africana entre 70% 80% da carne consumida pela China era suína, porcentual que deve ficar na casa dos 60%, de acordo com Sherrard. “Em outros países do sudoeste da Ásia também pode haver mudança permanente”, disse ele. O analista sênior do Rabobank em Cingapura, Ben Santoso, afirmou que no Vietnã o consumo de carne suína deve continuar abaixo dos níveis pré-peste suína africana até 2025; até lá, haveria migração para as carnes de frango e de peixe.
A necessidade por proteína animal nesses países deve beneficiar os principais produtores, em especial Europa, Estados Unidos e Brasil. Nos EUA, a produtividade já tem levado a aumentos anuais na produção de carne suína, e o país teria volume suficiente da proteína para exportar montantes expressivos. A projeção da analista sênior de proteínas do Rabobank na América do Norte, Christine McCracken, é de que a produção norte-americana aumente em cerca de 3% em 2020. O desafio para que o país exporte mais à China é a disputa comercial entre os dois países – apesar da assinatura da fase 1 do acordo comercial, ainda não houve reduções nas tarifas imposta pelos asiáticos à carne suína dos EUA. Mesmo assim, cerca de 25% das exportações totais da proteína norte-americana em 2019 foram para a China em decorrência do alto volume disponível nos EUA e dos preços competitivos. “Esperamos que a China continue sendo o principal comprador em 2020, talvez com uma parcela ainda maior das exportações”, afirmou Christine.
Na Europa, líder global de exportações de carne suína, a expectativa é de que a produção cresça cerca de 1% este ano, principalmente na França e no Reino Unido. A China é hoje, de longe, o principal destino para a carne suína exportada pela Europa – entre 2018 e 2019, a participação do gigante asiático aumentou de 38% para 50%, e a analista do Rabobank na Europa, Eva Gocsik, espera que o porcentual aumente ainda mais em 2020.