01/06/2016 09h00 – Atualizado em 01/06/2016 10h07
PIB do Brasil cai 0,3% no 5º trimestre seguido de contração
Foi a quinta queda trimestral seguida do PIB brasileiro.
NA COMPARAÇÃO COM O MESMO PERÍODO DE 2015, HOUVE QUEDA DE 5,4%.
Laura Naime e Cristiane CaoliDo G1, em São Paulo e no Rio
A recessão brasileira se aprofundou neste início de ano. No primeiro trimestre de 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) teve queda de 0,3% em comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a quinta queda trimestral seguida do PIB brasileiro. Em 2015, a economia brasileira “encolheu” 3,8% – o pior resultado em 25 anos.
Apesar da contração, foi o melhor resultado nessa comparação desde o quarto trimestre de 2014, quando o PIB cresceu 0,2%. Mas o dado está longe de ser bom, avalia o IBGE.
“Melhora por enquanto não houve até porque mesmo na margem a variação é negativa, mas é muito menor do que havia antes porque meio que manteve o patamar de queda em relação ao trimestre anterior”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Nos últimos quatro trimestres, a queda acumulada é de 4,7% frente aos quatro trimestres anteriores.
VALORES CORRENTES
Em valores correntes, o PIB atingiu R$ 1,47 trilhão no primeiro trimestre de 2016. Na comparação com o mesmo período de 2015, houve queda de 5,4% no PIB – a oitava contração seguida da economia.
Nos últimos quatro trimestres, a queda acumulada é de 4,7% frente aos quatro trimestres anteriores.
Em valores correntes, o PIB acumulado nos quatro trimestres até março de 2016 somou
R$ 5,94 triilhões, sendo R$ 5,088 trilhões referentes ao Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 855,1 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.
DEMANDA
Pela lado da demanda, os investimentos e o consumo das famílias foram destaque negativo: o primeiro com queda de 2,7%, e o segundo, de 1,7%. As despesas do governo foram as únicas a registrar crescimento, de 1,1% frente aos três meses anteriores.
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, todos os componentes da demanda tiveram queda pelo quinto trimestre seguido.
CONSUMO DAS FAMÍLIAS
Na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o consumo das famílias sofreu um “tombo” de 6,3%. O indicador, que foi um dos grandes impulsos para o PIB entre 2008 e 2001, completou oito trimestres de queda nessa comparação. No acumulado em quatro trimestres, o recuo vem desde o período de abril a junho do ano passado.
Segundo o IBGE, essa queda é explicada pela deterioração nominal de 2,1% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro nacional para as pessoas físicas, do aumento da Selic, que alcançou 14,3% ao ano no primeiro trimestre contra 12,1% ao ano no mesmo período de 2015, e pelo crescimento da inflação em 10% no primeiro trimestre de 2016, em comparação com o primeiro trimestre de 2015.
GASTOS DO GOVERNO
O gastos de consumo do governo cresceram 1,1% frente ao trimestre anterior, mas mostraram queda de 1,4% na comparação com o período de janeiro a março de 2015.
“Estava havendo redução, que continuou no trimestre, mas ele foi menor do que o trimestre anterior em termos interanuais. E comparando com o trimestre imediatamente anterior, dá uma subida. O governo estava fazendo contenção da despesa de consumo e essa contenção continuou, mas foi menor do que tinha ocorrido no quarto trimestre do ano anterior que tinha sido a mais forte da série nos últimos tempos”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais.
INVESTIMENTOS
Pelo décimo trimestre seguido, a formação bruta de capital fixo recuou na comparação com os três meses anteriores, numa queda de 2,7% – menos acentuada, no entanto, que a registrada nos períodos anteriores (veja no gráfico).
Frente aos primeiros três meses de 2015, foi a oitava queda seguida, de 17,5%. “Este recuo é justificado, principalmente, pela queda das importações e da produção interna de bens de capital sendo influenciado ainda pelo desempenho negativo da construção neste período”, diz o IBGE.
PRODUÇÂO
De acordo com os dados do IBGE, a indústria teve o pior resultado pela ótica da produção, com queda de 1,2% em relação aos três meses anteriores. A agropecuária recuou 0,3%, enquanto nos serviços a contração foi de 0,2%.
Indústria
Na indústria, a maior queda frente aos três meses anteriores se deu na extrativa mineral, de 1,1%. Já a indústria de transformação recuou 0,3% – no sexto trimestre seguido de contração. Construção recuou 1%, enquanto eletricidade e gás, esgoto e limpeza urbana cresceu 1,9%.
Ante o mesmo período de 2015, a indústria teve contração de 7,3% – a oitava seguida. A indústria de transformação caiu 10,5%, enquanto a extrativa mineral recuou 9,6%.
Sobre a queda de 9,6% da extrativa mineral, na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o IBGE explicou que o desempenho “foi influenciado tanto pela queda da extração de minérios ferrosos como da extração de petróleo e gás natural”.
AGROPECUÁRIA
Depois de mostrar recuperação no último trimestre de 2015, a agropecuária voltou a cair neste começo de ano, com uma contração de 0,3% frente aos três meses anteriores. Ante o primeiro trimestre de 2015, a queda foi mais acentuada, de 3,7%.
No acumulado em quatro trimestres, foi a primeira queda do setor desde 2012, recuando 1%.
COMERCIO EXTERIOR
As vendas do Brasil ao exterior foram o ponto positivo dos dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. Frente aos três últimos meses de 2015, as exportações brasileiras cresceram 6,5%. Já a importação de bens e serviços – que contam negativamente no PIB – tiveram queda de 5,6%.
De acordo com a Claudia Dionísio, coordenadora de contas trimestrais do IBGE, o comportamento positivo da exportação que foi observado no quarto trimestre de 2015 continuou no primeiro trimestre de 2016.
“Exportação já vinha com contribuição positiva, mas nesse primeiro trimestre de 2016 aumentou. A desvalorização cambial favoreceu, e até atividade econômica interna mais fraca favorece na medida que parte da produção nacional acaba sendo enviada para fora”.
PREVISÕES PESSIMISTAS
O resultado do PIB dos primeiros meses deste ano mostra que o Brasil está no rumo de mais um ano de recessão. Um relatório divulgado mais cedo pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que a situação econômica do país vai se deteriorar ainda mais este ano, com uma contração de 4,3% no PIB, seguida por uma nova queda, de 1,7%, em 2017.
Já os mercados financeiros preveem uma queda menos acentuada, de 3,81% na economia deste ano – a mesma esperada pelo governo, segundo o relatório de receitas e despesas do orçamento relativo ao segundo bimestre deste ano.